Na minha mão é mais barato!

O que é mais caro é melhor? Nem sempre. O que é mais barato é pior? Quase sempre.

No post Como Escolher um Dentista eu falei sobre alguns critérios que você deve usar pra encontrar a tampa da sua panela odontológica, o dentista que combina com você. Lá eu já dizia que a última “qualidade” que você deve procurar num profissional de saúde é preço, embora esse seja, sim, um fator a ser considerado. Quem paga a conta é que sabe quanto pode pagar, não é mesmo?

Mas hoje eu quero falar sobre aqueles pacientes que levam a coisa ao extremo, que usam o quanto querem pagar (não o quanto podem pagar) como critério único para escolher um profissional da saúde. É uma estratégia perigosa, mas tá cheio de gente corajosa por aí ;). Lembro de duas situações que ilustram o que eu estou dizendo…

Odontologia a preço de banana? Descasca essa!

A mulher adentra a sala de espera do consultório com um papel na mão. Nele consta uma lista de procedimentos, com o valor correspondente ao lado. A dentista pergunta no que pode ajudar, e a senhora diz que quer saber quanto custam aqueles procedimentos naquele consultório. A dentista aconselha que seja feita uma avaliação clínica. A pessoa diz que não há necessidade, já que ela já sabe o que tem que ser feito… só quer saber se ali é mais barato pra “fechar”.

Gostaram? Tem outra.

Certa vez, a mãe chegou com a filha para uma avaliação. A menina, de uns 14 anos, sentou na minha cadeira enquanto a sua digníssima progenitora discursava para minha nuca: “Eu vim aqui pra ver como é que é este lugar! Já fui em vários consultórios e clínicas antes desse. Se for muito caro, nem adianta!” Quando a mocinha abriu a boca pra eu olhar, o 36 era uma caçapa… cheia de pão, proveniente de uns 4 cafés da manhã. Ou seja: se o meu trabalho fosse baratinho, eu teria a honra de tirar comida dali de dentro a cada consulta. Não preciso nem dizer que fiz questão de dobrar os honorários pra garantir que os meus não fossem os mais em conta…

E por que esses pacientes agem assim? Porque eles não nos respeitam nem do ponto de vista pessoal (o que fica claro pelo desinteresse em escovar os dentes pelo menos antes de ir ao dentista), nem do ponto de vista profissional (o que é comprovado pelo costume de esfregar “orçamentos” alheios na nossa cara).

Mas a pergunta que não quer calar é: por que eles não nos respeitam? Essa é fácil: enquanto basearmos o valor dos nossos procedimentos no que o consultório do lado cobra, enquanto “cobrirmos orçamentos” e falarmos mal de colegas para posarmos de fodões, enquanto vendermos tratamentos em sites de compras coletivas e enquanto nos submetermos a tabelas de convênios que nos tratam como mão de obra barata, assim será.

Amém? Espero que não.

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Categoria: Profissão: Cirurgião-Dentista

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7 comentários

  1. Tive um caso de um paciente que me foi encaminhado para tratar periodontia, e não sei porque ele foi procurar outro colega antes de vir aqui, e o “colega” disse ao paciente que “ele nem é especialista, e aqui eu te faço o mesmo trabalho e cobro bem menos”.
    Certa vez ouvi que o mesmo “colega” cobrou mais barato por uma restauração por faze-la sem anestesia.
    Quando o paciente pergunta se cobro consulta, respondo que sim, e que se fizer o tratamento posso descontar o valor da consulta no tratamento final. Acho justo.

  2. Pingback: premio top perolas
  3. Quando alguém me pregunta quanto eu cobro, já com um orçamento, e eu percebo que a idéia é comparar preço, respondo:
    _Tenho certeza que o meu preço é MAIOR do que o que vc tem!
    Diante do choque, pergunto?
    _Quer a avaliação mesmo assim?
    Ah, e eu cobro a consulta (simbolicamente 20,00).
    Tem paciente que vc ganha muito mais quando perde.

  4. Fantástico o post… E isso acontece bem mais do que possa parecer, não é verdade???
    Mas aqui no meu consultório eu tenho uma regra básica pra isso que já começa pela secretária!!!
    Reclamou pra pagar a consulta, mas o fez preço final com acréscimo de 30 a 50% dependendo da gracinha!!! Nao pagou a consulta pq eu nao sou “médico” nao passa nem da porta!!!
    Agora o mais lastimável é ver q a maioria dos caros colegas odontólogos não fazem questão de mudar isso!!! Então que assim seja, mas não na minha clínica!!!

    1. Pois é, Rivaldo… não é uma questão de obrigar ninguém a nos respeitar (o que acredito ser impossível), mas de nos darmos ao respeito. Aí o reconhecimento por parte do paciente é consequência. 😉

A área de comentários / perguntas está fechada. Agradeço a compreensão.

No plantão: Ana Tokus

Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia pela ABO-PR, convicta de que medo de dentista se combate (também) com informação. Diva-Boss do OdontoDivas e autora do Blog Raios Xis. Twitter: @AnaTokus e @medodedentista