Eu tenho medo de dentista… recém-formado!

Quando li a entrevista do Dr. Victor no Sofá do Dentista me senti obrigada a duas coisas: primeiramente, morrer de rir :). Aí, quando consegui me recompor, tive que escrever sobre o tema. Sr. Paciente, você tem medo de ser atendido por um dentista recém-formado? E não precisa SER recém-formado, basta TER CARA. No caso do Victor, uma coisa reforçava a outra.

É esse “doutorzinho” aí que vai me atender???

Não preciso nem dizer isso, mas… dentista dá medo. É fato. Tanto é verdade que eu fiz um blog só pra falar disso. A gente costuma ter “o pé atrás” com qualquer profissional recém-formado. Mas do dentista… a gente já desconfia sem nem saber de quem se trata, está implícito. Portanto, como já é do meu costume, deixe-me explicar algumas coisinhas pra ver seu dá pra dissipar um pouco desse medo.

O curso de Odontologia dura em torno de 5 anos. No primeiro e no segundo ano de faculdade o futuro dentista estuda o básico que qualquer profissional da área da saúde (dentistas, médicos, enfermeiros…) precisa saber: bioquímica, farmacologia, fisiologia, anatomia e uma série de outras disciplinas que têm como objetivo fazer o aluno entender e dominar o funcionamento do corpo humano. E, embora a área de atuação dos cirurgiões-dentistas seja a cabeça e o pescoço (os dentes são só uma parte do que nos cabe), lembro-me de ter que decorar os nomes dos músculos e ossos pertencentes ao meu pé (não só ao meu, claro, a todos os pés humanos :)). Por que isso? Porque o nosso corpo é uma coisa só, e suas partes se inter-relacionam. O medicamento que o dentista prescreve para a uma dor de dente, por exemplo, repercute no organismo todo do paciente.

Depois começam as disciplinas mais específicas, coisa de dentista mesmo. Num primeiro momento, em âmbito laboratorial, ou seja, em modelos e manequins. Nós restauramos e tratamos os canais de dentes artificiais e, principalmente, de dentes naturais (que conseguimos fazendo romaria nos consultórios odontológicos). Depois que nos embasamos teoricamente e aprendemos as técnicas operatórias no laboratório, vem a parte que mais aguardamos: atender pacientes de verdade.

Ah… o primeiro paciente. Não sei quem treme mais! 😀

O que eu quero deixar claro aqui é que nós já saímos da faculdade tendo atendido muitos pacientes. Cada disciplina nos exige um número mínimo de atendimentos. Ou seja, antes de chegarmos a atender em nossos consultórios, com a plaquinha de “doutor” na porta, passamos pelo menos uns 2 anos e meio atendendo as várias especialidades odontológicas nas clínicas da Universidade.

É interessante como funciona a cabeça do ser humano, né?! E não estou falando da sua anatomia, fisiologia, etc.. As pessoas pensam assim: “Eu não vou naquele dentista porque ele não tem experiência. Depois que ele tiver atendido um monte de gente, aí eu vou”. Ou seja: treinar nos outros tudo bem… TREINAR EM MIM, NEM PENSAR!

Quero aproveitar a ocasião e agradecer imensamente a cada um dos pacientes que eu atendi na faculdade. Os super legais e os super chatos. Porque foi, graças a “coragem” deles, que eu pude aprender a ser dentista. Vocês sabiam que na ocasião das nossas formaturas, entre os homenageados da solenidade, estão os pacientes que atendemos durante o curso e até os cadáveres que foram nossos objetos de estudo nas aulas de anatomia? Sim. E nosso respeito e gratidão por eles é real, não faz só parte do protocolo…

Meu recado é o seguinte: medo de dentista recém-formado é compreensível. Ao profissional novato falta, sim, experiência. Mas vivência clínica só se adquire… clinicando. Atendendo, acertando e, às vezes, errando. E é fato que não é só a experiência que faz um profissional ser bom ou ruim. Tem gente que está há anos na estrada e que não nasceu pra coisa… tem gente que não saiu da faculdade ainda e que manda muito bem! Dê um voto de confiança ao “doutorzinho”… você pode se surpreender. 🙂

Dicas e relatos de experiências bacanas (ou não!) pra você que se formou em Odontologia há pouco:

Recém-Formados: Montar Consultório ou Não? no Vida de Dentista

A Dura Vida do Recém-Formado no PodCuspir

Me Formei! E Agora? Socorro! no OdontoDivas

Minha Nada Mole Vida… de Dentista no Camilagem

Aconteceu Comigo: Isabelita Leal no Sofá do Dentista

Trabalho, Valor e Confiança no OrtoBlog

Como Montar Seu Consultório Odontológico no OdontoBLOGia

Fazer ou Não Odontologia? no Ricardo Dentista

Diário de um Ex-Acadêmico de Odontologia no Dicasodonto

Formatura… e Agora? no Sorriso CASOall

Dr. Sakana 4 – Futura Dentista no Pérolas da Odontologia

10 Dicas Para Recém-Formados no Ortodontia Para Todos

Depois de quase 12 anos de formada… no Te Vejo Por Dentro

 

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Categoria: Profissão: Cirurgião-Dentista

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21 comentários

  1. Estou fazendo tratamento de canal com um doutor recém-formado, não consigo chamá-lo de senhor rsrsrsrs. Ele é maravilhoso, responsável. Melhor que muitos dentistas experientes que já fui.

    1. Chame de “você” mesmo, Aline! Tem uns dentistas recém-formados que têm cara de bem novinhos, mesmo… mas é como você falou, não é isso que determina se ele é bom profissional ou não. 😉

  2. Parabéns pelo site, já comentei mais de uma vez aqui, mas hoje só estou passando pra dizer que tô sempre lendo!

  3. Ana, Parabéns pelo tópico, fiquei feliz de saber que você estudou todo o corpo humano (até os pés!!!!!), porém infelizmente isso ainda não é realidade em algumas faculdades de odonto (pelo menos na minha eu nem vi sombra disso)!! Espero que isso mude algum dia….

    1. Puxa Lucas, eu espero que isso mude também. Não que eu ache que conhecer a anatomia dos pés seja fundamental pra um dentista ;), mas essas noções gerais nos fazem profissionais mais completos, sem dúvida. Onde você estudou? Abraço e obrigada pela visita e pelo comentário!

  4. Nossa muito legal esse blog, sou formada há dois anos, e veio um filme na minha cabeça, lembro que no inicio penei pra caraba, com a falta de segurança, mas isso é tudo uma questão de tempo, amo essa profissão e procuro fazer sempre o melhor para meus pacientes…

    bjs parabéns…

  5. O medo de ser atendido por um recém formado é absolutamente compreensível.

    Por isso os acadêmicos tem que aproveitar o máximo o período de clínica integrada na faculdade para perder todos os medos, tirar todas as dúvidas, ou seja, se tornar um récem formado mais SEGURO. Se você passar segurança para o paciente ele não terá medo.

    Abraço, Ana

  6. Parabéns pelo Post Ana!!
    Desde o 2 ano de faculdade eu estagiei e me formei muito cedo com 22anos!
    Penava com a falta de confiança dos pacientes, mas acabava conquistando no final 🙂
    Bjs

  7. Ahaha, fiquei super feliz que meu relato tenha inspirado uma postagem tão excelente!
    Tenho sofrido um pouquinho com o fato de ser recém-formado!.. Hoje em dia poucas pessoas falam, como a “Dona Fulana”, que não querem ser atendidas por uma pessoa tão nova, mas o olhar de “se eu soubesse que seria você não teria vindo” diz tudo!
    O lado bom é que alguns desses pacientes acabam sendo fidelizados mais facilmente. O contraste entre o ser tão inexperiente porém ser tão dedicado e atencioso, acaba somando muito mais pontos em favor do “doutorzinho” 😀

  8. E a gente sofre um bocado pra aprender o que deve ser feito, quando deve ser feito e fazer da melhor forma possível.
    Eu sofro, tu sofres, ele sofre…
    Estudante de odonto sofre, minha gente!!!

A área de comentários / perguntas está fechada. Agradeço a compreensão.

No plantão: Ana Tokus

Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia pela ABO-PR, convicta de que medo de dentista se combate (também) com informação. Diva-Boss do OdontoDivas e autora do Blog Raios Xis. Twitter: @AnaTokus e @medodedentista