O texto abaixo é do Dr. Marcelo Cesa, cirurgião-dentista, mestrando em DTM e Dor Orofacial e autor do blog Maldito Bruxismo.
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Para entendermos como se processa o medo relacionado ao ranger de dentes vamos seguir o seguinte roteiro:
- A fase oral de Freud;
- A culpa cristã e o castigo relacionado ao ranger de dentes;
- O envolvimento límbico e auto-imagem relacionados à oralidade e à formação do medo elementar.
–> A FASE ORAL DE FREUD:
Fase oral (0 a 18 meses / 2 anos)
– 0 a 6 meses: sucção.
– 6 meses a 2 anos: oral sádico canibalista.
Zona erogéna: boca .
Instâncias: id e ego.
Conflito:
– Desmamo
– Prazer / autoconservação: prazer do toque dos lábios e cavidade oral, os mamilos. Autoconservação pela alimentação.
Pulsão:
– Fonte: zona oral.
– Alvo: incorporação.
– Objeto: aquele da ingestão do alimento.
Relação com o Objeto:
– Impulsos canibalescos: nesta fase o bebê relaciona-se com a mãe como parte dele próprio.
Fases:
– Sucção: fase oral precoce de sucção pré-ambivalente.
– Mordedura: fase sádico-oral concomitante à dentição. A incorporação adquire o significado de destruição do objeto devido à ambivalência instintual, ou seja, a coexistência de libido e agressividade, em relação ao mesmo objeto. Mastigar, morder e cuspir são expressões dessa necessidade agressiva inicial.
Expressões possíveis de conflitos orais:
– Inapetência;
– Vômito;
– Ranger de dentes;
– Inibições da fala.
Estrutura de caráter oral caracteriza-se por:
– Ganância;
– Dependência;
– Intolerância;
– Agitação;
– Curiosidade.
Imagem do objeto externo satisfatório: vivência de satisfação.
– Capaz de dar um fim à tensões internas da fome;
– Repetição da experiência primal;
– É responsável pela construção do desejo do sujeito.
Nas fases maternais da escola é comum que aconteçam as mordidas. A criança está passando pelas fases orais e este é um mecanismo de relacionar-se com o outro e descrevem o desejo da criança por satisfação e prazer enquanto esta aprende mecanismos sociais de expressão dos seus desejos com receptividade ou agressividade.
–> A BÍBLIA cita a expressão “ranger os dentes” em:
“E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 13:42
“E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 13:50
“E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 8:12
“Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 25:30
“Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora”. Lucas 13:28
“E separa-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 24:51
“Disse, então, o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”. Mateus 22:13
“E este, onde quer que o apanha, despedaça-o, e ele espuma, e range os dentes, e vai definhando; e eu disse aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam”. Marcos 9:18
–> O ENVOLVIMENTO LÍMBICO e autoimagem relacionados a oralidade e a formação do medo elementar.
O sistema límbico relaciona-se com as instâncias corticais atribuindo diversos valores cognitivos a sensações orais e atribui a estas valores emocionais.
Associando-se os mecanismos da fase oral de Freud às conjecturas cristãs de pecado e castigo relacionados ao ranger de dentes, pode-se atribuir que o medo de ter uma disfunção oral associa culpa relacionada às fases orais de formação do caráter do indivíduo e estão, dessa maneira, bastante arraigadas à autoimagem e à cosmovisão deste indivíduo.
Portanto, o medo de ter bruxismo é uma forma de expressão consciente de um medo elementar relacionado ao mesmo tempo ao instinto de autoconservação e o instinto de conhecer o outro. O medo de ter bruxismo pode ser descrito sob a forma de temer que algo relacionado a estrutura do oral do eu (somática ou psicologicamente) não desempenhe adequadamente a função de autopreservar-se enquanto se relaciona com o outro e com o mundo. É próprio deste medo elementar o medo de ter culpa pela agressividade.
Ainda sobre o medo de ter bruxismo, o medo de ter os dentes desgastados está relacionado ao medo de envelhecer, de perder a função. E estes, ao medo de morrer.
3 comentários
Muito boa a citação bíblica, que o Dr. Marcelo fez. Particularmente, eu creio que todas as respostas estão no livro sagrado, de uma forma ou de outra… =D
"… nesta fase o bebê relaciona-se com a mãe como parte dele próprio".
"… ambivalência instintual, ou seja, a coexistência de libido e agressividade, em relação ao mesmo objeto".
Isso explica porque não tem um dia que eu não leve uma mordida do meu filho (1 ano e 5 meses). É amor! Ou não. 😀
Que doideira … hahahahahaha
Essa parada bíblica é sensacional !!! =D
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