Coronavírus e dentes quebrados

A COVID-19 não tem nada a ver com dentes, certo? Mais ou menos. Coincidência ou não, aumentou o número de pessoas procurando os consultórios dos dentistas por causa de dentes quebrados. E não deve ser coincidência, mesmo. Como é que um vírus que é transmitido pelo contato pessoal e causa problemas respiratórios (além de outros vários) pode quebrar dentes?

Quando começou a pandemia, os dentistas diminuíram seu ritmo de atendimento, seguindo a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde), até porque o atendimento odontológico gera aerossol, por causa do uso da alta rotação (o “motorzinho”). Essa nuvem de gotículas é – potencialmente – altamente contaminante, tal qual o espirro de uma pessoa com COVID. Então, os atendimentos se restringiram às urgências, e as urgências odontológicas estão divididas em 2 grupos (simplificando muito): dor e estética. Quem tem dor não pode esperar o coronavírus sumir pra ir ao dentista, e quem perdeu o dente da frente até pode, mas não vai querer esperar “banguela”…

Estresse

Por que a pandemia aumentou o número de casos de dentes quebrados? Estresse. Estamos passando por um momento complicado da história, em que as emoções estão à flor da pele por causa do medo de ficar doente, da crise social e da crise econômica.

Estresse não quebra dentes, mas bruxismo e apertamento podem quebrar, sim. Eu expliquei sobre esse assunto nesse post aqui, mas basicamente bruxismo é o hábito de ranger os dentes e apertamento é ficar fazendo força com os dentes encostados. Essas ações cansam, causam dor e a força aplicada aos dentes pode levar à fratura daqueles mais frágeis (os cariados ou que já foram muito restaurados, por exemplo). O fator psicológico / emocional e o estresse parecem ter íntima relação com a ocorrência do bruxismo e apertamento.

A DTM (disfunção temporomandibular) pode causar dor nas articulações da mandíbula. E o estresse pode estar diretamente envolvido na ocorrência de DTM.

Agressões e acidentes

Outro motivo. Estamos todos nervosos, mas algumas pessoas podem ficar agressivas. Uma estatística triste: em abril, quando o isolamento social imposto pela pandemia já durava mais de um mês, a quantidade de denúncias de violência contra a mulher recebidas no canal 180 deu um salto: cresceu quase 40% em relação ao mesmo mês de 2019, segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH). E tem homem batendo em homem também, mulher batendo em mulher (mais raro, mas acontece), gente se acidentando… tudo isso quebra dentes.

O meu dente quebrou. E agora?

Vá ao dentista! Nós dentistas sempre fomos muito bons em biossegurança. Embora seja possível “pegar” coronavírus em qualquer lugar onde haja contato pessoal, não há NENHUM caso relatado de contaminação no consultório de um dentista. Nós sempre usamos todos os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e, atualmente, mais alguns, tudo pra garantir a sua segurança e a nossa. Dente quebrado tem conserto e não pode esperar a vacina.

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Categoria: Apoio PsicológicoProfissão: Cirurgião-Dentista

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No plantão: Ana Tokus

Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia pela ABO-PR, convicta de que medo de dentista se combate (também) com informação. Diva-Boss do OdontoDivas e autora do Blog Raios Xis. Twitter: @AnaTokus e @medodedentista