Dentista, seja paciente!

Luz na cara!

Não… eu não tô querendo que você, colega, tenha mais paciência (embora em certas situações isso fosse muito útil). A minha proposta é outra: que você se coloque no lugar do seu paciente.

Já fiz isso de forma prática quando eu ganhei uma avaliação odontológica, lembram? Naquela ocasião pude refletir um pouco a respeito, mas hoje eu gostaria de ir além. Até porque dentista também vai ao dentista, não é mesmo?

Ontem eu atendi a minha cunhada, que também é dentista. Ela me ligou contando que estava com um pouco de sensibilidade num molar que tinha uma restauração grande e antiga. Radiografamos. Na radiografia, nada que indicasse problema… mas sabe como é, restauração de resina que não é trocada há anos, com sinais de infiltração… tava na hora de mexer. E então ela me procurou.

Você, paciente, deve estar achando que a gente tira de letra esse tipo de coisa, né?! É abrir a boca e deixar o colega trabalhar! Só que não. Tem um MONTE de dentista que não gosta de ir ao dentista… que prefere esperar mexer pra ver se precisa MESMO tomar anestesia… que adia um procedimento mais invasivo enquanto dá. Com a minha cunhada foi mais ou menos assim. E sabe por quê? Porque a gente também sente dor. Porque a gente também acha um saco ficar de boca aberta, a articulação da mandíbula dói e o queixo treme por causa da luta pra não fechar a boca, enquanto nossas línguas se debatem freneticamente. Porque a luz do refletor na cara é sim de cegar!

Dentista sendo paciente

Eu estive no dentista recentemente. Quem fez o papel de minha dentista, no caso, foi uma colega minha de faculdade (é ela ali disfarçada ;), na foto). Eu precisava remover uma contenção ortodôntica que estava solta, e ela me fez esse favor. Fazia uns 5 anos que eu não encarava o motorzinho, e tenho que admitir: a sensação não é legal. Não tenho e nunca tive medo de dentista, e o procedimento ao qual eu me submeti é algo muito simples… mas é chata a sensação de alguém mexendo dentro da sua boca… do spray que deixa sua cara molhada… da cabeça inteira vibrando quando a broca encosta no dente.

Eu acho que colocar-se no lugar de quem deita nas nossas cadeiras é um exercício de humildade. Porque só assim o dentista consegue compreender o que é ser paciente e, dessa forma, pode ajudar as pessoas a passarem sem traumas por essa experiência. Além disso, nos ensina e nos lembra de tratar nossos clientes com respeito.

Quanto à minha cunhada, em breve ela terá a oportunidade de “se vingar” de mim. Uma restauração que tenho num molar vem dando sinais de cansaço e, daqui a pouco, é a minha vez. Tomara que ela, ao me atender, seja tão boazinha comigo como eu fui com ela. 😉

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Categoria: Profissão: Cirurgião-Dentista

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7 comentários

  1. Bem, eu achei que para os dentistas era mais fácil por conhecerem todas as técnicas que nós leigos (ou pelo menos eu) ignoramos por completo.

    1. Sabe Erika, eu acho que é até o contrário… em certos casos, a “ignorância” é uma bênção. Nunca precisei tomar um anestesia dentária depois que me formei dentista, mas se/quando eu precisar, tenho certeza que vou ficar imaginando todo o trajeto da agulha desviando de certas estruturas anatômicas, tocando em osso, etc.. Nesse caso, a impressão é que vai doer mais. 😛

  2. Bacana… A gente sempre precisa se colocar no lugar “do outro”… e olha, tem situações que não são nada agradáveis. Ainda mais se tratando de dentista… aafffff Adorei a Dra. Ana na foto!!! rsrsrs

  3. Sejamos pacientes também com os atrasos dos digníssimos;
    Podemos exercer essa qualidade também no tocante àqueles que não nos ligam para desmarcar a consulta, embora tenham sido confirmados para o dia;
    Usemos desse dom perante os balões finaceiros que tomamos;
    Vale ter paciência com os monstrinhos que destrõem nossa sala de espera,enquanto a mamãe acha lindo ele rasgar as revistas e destruir nosso controle remoto;
    Vão para o céu os dentistas que recebem aquela miséria de convênios e torcem pra cair o pagamento no dia certo e sem glosas;
    Isso de aguentar broca ou luz na cara é nada perto da nossa seriedade para com os pacientes. Nossa dedicação é infinitamente maior em comparação ao que temos de retôrno desses clientes.
    Sentarmos na cadeira de um colega nos mostra que nosso trabalho é de grande necessidade pra todos, e , com toda certeza ,nos faz merecedores de muito mais gratidão do que percebemos na nossa clínica diária.
    Em vez de sermos mais pacientes, que tenhamos mais gratidão. Isso é que teria que acontecer.

    Abs.

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No plantão: Ana Tokus

Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia pela ABO-PR, convicta de que medo de dentista se combate (também) com informação. Diva-Boss do OdontoDivas e autora do Blog Raios Xis. Twitter: @AnaTokus e @medodedentista