Comecei a usar aparelho ortodôntico aos 7 anos de idade, quando minha mãe, que não é dentista, percebeu que minha mordida não era normal, diagnosticada como maloclusão classe III de Angle, pelo ortodontista. Na época (me senti velha agora), o ortodontista escolhido foi um amigo da família, um” japinha” querido, que orientou meus pais sobre o tratamento a ser realizado, os tipos de aparelho e inclusive comentou sobre uma possível cirurgia ortognática que provavelmente teria que ser feita.
Usar aparelho ortodôntico e visitar mensalmente o ortodontista foi minha rotina até os 15 anos, quando o aparelho foi removido. Mais tarde, entrei na Universidade, como acadêmica no curso de Odontologia. Durante os anos de graduação, alguns professores da disciplina de cirurgia, se interessaram pelo meu caso e se dispuseram a realizar a cirurgia. E eu fui adiando, esperando o término do curso para depois decidir.
Terminei o curso, me formei cirurgiã-dentista e fui fazer especialização em Radiologia Odontológica. Minha monografia de conclusão do curso relacionava radiografia oclusal e enxerto ósseo. Por conta disso, eu tinha que acompanhar várias cirurgias de enxerto ósseo. Numa bela manhã, fui acompanhar uma destas cirurgias e me indicaram uma sala do centro cirúrgico. Quando entrei na sala, meu professor estava fazendo a cirurgia e me chamou dizendo : “Kellen, venha ver o que iremos fazer em você.” Eu nem me liguei. Fui logo metendo a cara. Olhei o paciente e vi sua maxila rebaixada. Meu Deus! Que susto! Perdi a voz por alguns minutos… Fiquei olhando e prestando atenção no que ele explicava com todo entusiasmo. Uma sensação estranha tomou conta de mim. Será que era medo? Medo de dentista? Como eu uma dentista, quase especialista, me permiti sentir medo? Fiquei em silêncio e sem mais me despedi com a desculpa de que o pessoal da sala ao lado, já estava esperando por mim.
Pensei muito no assunto. O dentista que iria realizar minha cirurgia era meu professor, portanto, um doutor na arte da cirurgia. Eu, com certeza estaria numa das melhores mãos deste país. Terminei minha especialização e decidi não me submeter a este procedimento. Sei que esta decisão me levará a sérias conseqüências, inclusive na função mastigatória. Acho que se eu não tivesse visto, talvez teria encarado.
Quem sabe? Viu só? Qualquer um pode ter medo de dentista. Inclusive o próprio dentista… rsrsrs
Kellen Belmont, cirurgiã-dentista especialista em Radiologia Odontológica, é autora do blog Te Vejo Por Dentro.
7 comentários
>Oi, Kellen! Resolvi comentar pq passei o mesmo que vc. Eu quase desisti de ver a aula sobre ortognática duranta a faculdade com medo de desistir da cirurgia que eu precisava fazer. Mas fui, fiquei chocada! Mesmo assim, fechei os olhos e fiz minha cirurgia. Só digo uma coisa: foi a MELHOR coisa que fiz na minha vida!!!
Beijos!
>Bacana a atitude da Dra. Kellen. Afinal, é preciso ter coragem para assumir nossos medos! E isso a torna um ser humano como outro qualquer, assim como nossos próprios pacientes! Não somos heróis nem vilões, muito menos torturadores! Basta trocarmos as posições e veremos que também podemos ter medo do dentista!
>HAHHAHAHAHAAHHAHAHAHA … O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM O CORAÇÃO NÃO SENTE =D
>Obrigada querida Ana!
Obrigada pelo espaço. Adorei participar do Medo de Dentista.
bj grande!
>Com certeza, Geisson… é bacana os pacientes verem como nós somos humanos e também sentimos medo. Cria empatia. Medo é normal! o problema é quando o medo se torna fobia, o medo que é doença.
Victor… "vai que um dia eu fique velho?" Espero que você viva muito ainda e fique velho um dia sim! (isso se Jesus não voltar antes) 😛 E um coroa enxutíssimo… 😀
Abraços!
>Tadinha da Kellen!
Com certeza, olhar uma cirurgia como a Ortognática, e saber que ela seria realizada em você, deixaria qualquer pessoa receosa. Eu, por exemplo, parei de ver "Dr. Hollywood". Vai que um dia eu fico velho e tenho vontade de mexer em alguma coisinha… haha brincadeirinha!
Parabéns Kellen, pelo texto e por dividir conosco e com os leitores desse excelente blog suas experiências. Tenho certeza que seu medo já diminuiu um pouquinho enquanto escrevia esse post!
Beijos!
>Sim, todos nós temos medos. E quando uma profissional confessa-o, deixa de certo modo mais próxima do que os pacientes sentem e transmite mais confiança a eles. Os dentistas cada vez mais se preocupam com esse componente importante do tratamento bucal, com novas técnicas, novos materiais e sobretudo muita paciência, em saber escutar e não menosprezar o que o cliente sente.
Valeu Kellen, valeu Ana!
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