“Doutor, eu fui em outro dentista e ele me disse que eu tenho que fazer o tratamento de canal deste dente e colocar uma coroa, que não dá mais pra restaurar. Tá certo isso?”
Certamente uma situação parecida já aconteceu com você, colega. “Tá certo isso?” é uma frase que eu ouço bastante no consultório… o paciente quer uma “segunda opinião”. Problema nenhum, é um direito dele. O que estraga é o motivo recorrente: ele acha que o outro dentista está inventando procedimentos para ganhar mais dinheiro. Pode até ser, né?! Mas, via de regra, não é não.
Esse tipo de comportamento me faz pensar sobre a imagem que os pacientes fazem da gente. Será que o outro dentista não transmitiu segurança? Será falta de credibilidade no profissional de Odontologia? Ou será uma crise de confiança no próximo, de forma geral? Ao que me parece, na maioria das vezes, o que ocorre é a terceira situação. As pessoas aprenderam a ser desconfiadas. E aprenderam da pior forma: sendo enganadas… e enganando. 🙁
Em 2007, numa pesquisa da Rider’s Digest (Revista Seleções) feita entre 1000 leitores da publicação, o cirurgião-dentista foi o profissional liberal que obteve o maior índice de confiabilidade, isso de acordo com com 81% dos entrevistados. No índice geral os dentistas só ficaram atrás dos bombeiros, que chegaram ao respeitável número de 96%. Isso faz 4 anos, mas demonstra que o problema da desconfiança não parece ser específico da relação paciente / dentista. Digo mais: creio que a relação que mais carece de confiança é a dentista / dentista.
Quem aí já ouviu que “a classe odontológica é desunida” levanta a mão o/o/o/! Quer saber? Eu não acho. A minha rede de relacionamentos profissionais só me beneficia, aliás, NOS beneficia. E tem que ser assim, sozinho ninguém cresce. Quem pensa que vai longe sem uma equipe, quebra a cara rapidinho. O colega da porta ao lado “cobre o seu preço”? Deixe ele lá contando as moedinhas dele… 😉 ou você vai fazer igual?
Anyway…
E quando o paciente coloca você naquela saia-justa com uma pergunta perigosa do tipo: “Como assim eu só tenho 1 cárie? O outro dentista disse que eu tinha 8!” O que você responde?
- Mas você não tem! Ele inventou as outras 7. OU
- Puxa, que coisa! Na minha opinião você só tem 1. Talvez ele tenha considerado alguns sulcos mais profundos, escurecidos, como cáries. Vamos fazer o seguinte? Restauramos o seu dente cariado e ficamos de olho nos outros 7.
Notaram a diferença? A mensagem é a mesma e você não incorre no erro de julgar quem você não conhece baseado no relato de… quem você não conhece! PENSE o que você quiser, é um direito seu, mas não caia na armadilha de EMITIR OPINIÃO como se você fosse um perito. O CEO condena esse tipo de atitude, além de pegar mal pra caramba. E nem preciso dizer (mas vou): não use esse tipo de situação como oportunidade para angariar pacientes, parecendo melhor ao diminuir um colega.
Enfim, se o paciente não acredita em você ou no colega que o atendeu primeiro, talvez o problema seja o paciente. Talvez o problema seja o colega. Talvez o problema seja você. Por via das dúvidas, faça a sua parte. Não fale do que o outro deveria ter feito, e sim do que você faria… parece a mesma coisa, mas não é. E se o paciente estiver no meio do tratamento com um colega e aparecer na sua porta reclamando, sugira que ele volte e esclareça as coisas com o dentista que o atendeu primeiro. Agindo assim, ganha a Odontologia e quem mais consideramos: nossos pacientes.
12 comentários
Dentistas mentem sim. E é para ganhar dinheiro, sim. Fazem furos nos dentes dos outros a toa, arrancam dentes a toa, colocam aparelhos mesmo sabendo que o dente vai voltar a ficar torto. Desculpe, é bom ter união entre os pares, mas não solidariedade aos patifes. Isto é muito sério!!! Depois dessa leitura, colocarei o 2º colocado da charge ao lado do engraçadinho (políticos) na fila da minha classificação pessoal de profissionais confiáveis.
Obrigado pelo toque, alertarei outros pacientes a sempre procurar outras opiniões.
E você chegou a essa conclusão lendo o MEU texto???
Você esqueceu de citar um tipo de mentiroso: pacientes / clientes. Sim, eles mentem também. Mentem porque querem “testar” o dentista, o médico, o advogado, seja lá qual for o prestador de serviço. É um direito deles? Pode ser… mas eu acho desonesto. Por isso o mais justo é não acreditar nem no paciente, nem no que o dentista – supostamente – disse. Faço o exame, dou o diagnóstico e proponho o tratamento. Qualquer coisa que o outro dentista tenha dito não é relevante pra mim, é um assunto entre o ele e o paciente.
Olá!
Não sou dentista e faço tratamento odontológico a quase 5 anos.
E na minha opinião 99% é culpa do profissional que não passa credibilidade ao paciente.
A minha ortodentista atual, já faz em torno de quase 1 ano que me enrola pra retirar o meu aparelho. Um dia fala que vai retirar no mes tal, e depois fala que precisa mais tempo, diz que vai retirar no mes seguinte e vem outra desculpa… e assim fica essa novela.
Toda pessoa que usa o aparelho quer um dia ficar com os dentes alinhados, bonitos e saudaveis.
O profissional não passa segurança e o paciente é obrigado a procurar uma segunda opinião. Tem hora que penso…” Ela está insegurança ou quer o dinheiro da mensalidade?”
Como em qualquer categoria, existem bons e maus profissionais.
O dentista, seja qual for sua especialidade, precisa ser transparente e honesto.
Abs!!
Vera, não considero essa porcentagem tão alta. Até porque “passar credibilidade” é bem diferente de ser honesto. Mas, como você disse, o que se espera é que o dentista (ou qualquer outro profissional) seja transparente e honesto.
Abraço, obrigada pela visita e pelo comentário. 🙂
Onde assino?
Sempre digo que o sol nasceu para todos. Deixe o colega agir como acha correto. Também não tenho queixa de desunião. Tenho uma rede de colegas muito unida, salvo, um ou outro caso pontual.
Não acho que seja diferente em outras classes.
Devo admitir que não tenho toda essa fleuma, mas procuro ser justa com os dois lados.
Sempre repreendo, sutilmente, o paciente que põe em duvida o colega, pensando que amanhã fará o mesmo comigo, mesmo porque, alguns esquecem quem fez o que, e porcarias feitas na boca dele podem ser creditadas a mim indevidamente.
Por outro lado tbem não acho justo esconder uma trepanacão dupla e obturada em pre molar, que levou a perda do elemento. Dar o diagnóstico sem contar o porque não seria ético para comigo. O bom senso deve imperar.
Concordo, Celia! Não acho legal “acobertar” o erro de ninguém… mas nem pensei dessa forma: falo de diferentes condutas tomadas por profissionais diferentes. Discordo de um monte de coisa que vejo, mas sair metendo o pau sem saber em que condições aquilo foi feito é que não acho legal… muito menos acreditar na forma que o paciente conta a história, já que ele não tem conhecimento técnico pra opinar. É isso mesmo: o bom senso deve imperar. 🙂
Se todos tivesse a sua lisura na hora de diagnosticar, os pacientes confiaram mais na classe.
Acho uma tremenda falta de ética o que foi sugerido acima, para mentir ao paciente sobre o
diagnostico errado do outro dentista. Isso é se aproveitar da situação, pelo fato do paciente ser
leigo sobre o assunto. Profissionais sérios sempre cativam a confiança dos pacientes.
Quem nunca voltou a um dentista (mesmo que o mesmo não atenda o seu plano ou já não
faça mais tal procedimento) só para ouvir uma opinião confiável sobre o tratamento.
Carol, onde é que foi sugerido “mentir para o paciente sobre o diagnóstico errado do outro dentista”???
“…para mentir ao paciente sobre o
diagnóstico errado do outro dentista…”
…não entendi…
Uma das minhas visões,(dentro da várias outras) é que tratamentos odontológicos (alguns) são caros, o que levam o paciente procurar um tratamento alternativo mais conhecido como “quebra-galho”, que na maioria das vezes tem um preço mais em conta e faz com que o paciente perca a confiança e credibilidade no profissional “careiro”. Quase não olham qualidade e sim preço…
Por isso, aposto na crise de confiança. O segredo é procurar um profissional com boas referências, honesto e que esclareça essas dúvidas.
Sua visão humanística e os conceitos éticos e morais, numa linguagem tranquila, puxa nossas orelhas sem que notemos dor… Anestesia perfeita, dra Ana, e mais perfeitos são os valores do certo e da justiça, cada vez mais necessários nos dias competitivos em que vivemos.
Abraços.
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