Arrancar um dente. Infelizmente, esse é o procedimento mais associado à imagem do dentista através dos tempos. A Odontologia, até não muito tempo atrás, se resumia a isso: remover os dentes que doíam até que não sobrasse nenhum mais para incomodar. Um costume muito comum, mais frequente nas áreas rurais, era o pai da moça mandar extrair TODOS os dentes da filha em idade de casar, independente da necessidade, para que seu futuro marido não tivesse mais despesas com isso. o.o Tipo um “dote“. Já ouvi essa história algumas vezes no consultório… 🙁
Tem gente que acha que extrair um dente, necessariamente, dói. É um negócio meio “truculento”, é verdade, não dá pra ser totalmente delicado. Porém, todo procedimento de extração dentária é feito sob anestesia. O que você sente durante o procedimento é pressão, não dor. Às vezes o paciente confunde uma coisa com a outra. SENTIR O TOQUE, você vai; SENTIR DOR é que não vai. O dentista te aperta, estica e puxa e viva a festa da Xuxa, é assim mesmo. E sobre a anestesia, já falei aqui e repito: ela é a solução para a dor, e não o motivo dela. Quando ela não se instala (não “pega”), das duas uma: ou a técnica anestésica está inadequada ou a região está tão inflamada que, por uma questão de pH (“acidez”) tecidual, o anestésico não funciona direito. Então, não espere o último segundo pra procurar seu dentista. Fica pior pra você. o.o
Exodontia. Esse é o nome técnico da extração dentária. Exo significa “fora” e dontia, “dente”. Portanto, exodontia é remover o dente do álveolo, que é o buraco em que ele está. Explicar como se faz isso, neste espaço, acho que mais assusta do que ajuda. O fato é: às vezes, é preciso tirar o dente.
Algumas situações em que a exodontia é requerida:
Dente fraturado: não qualquer uma, as fraturas de coroa normalmente têm conserto. Mas aquela fratura que parte o dente em dois, de cima até embaixo, quando ele fica até mole. Por vezes, esse tipo de fratura nem é percebido no exame clínico, sendo necessária a realização de uma radiografia.
Dente extranumerário: nossa dentição completa, na idade adulta, atinge o número de 32 elementos. Mas há quem tenha 33, 34, 35… quando isso acontece, normalmente não há espaço nos arcos dentários pra acomodar todo mundo. Os “intrusos”, via de regra, caem fora.
Dente incluso: é aquele dente que não conseguiu “nascer” (irromper) porque um obstáculo o impedia, por falta de espaço no arco ou por causa de seu posicionamento desfavorável. Ainda dá pra tirar ele de lá através de uma técnica chamada “tracionamento”, muito utilizada com caninos inclusos. A decisão pela extração depende do planejamento do caso e da relação custo-benefício para o paciente.
Exodontia por razões ortodônticas: algumas vezes não há espaço suficiente nos arcos dentários para que todos os dentes sejam alinhados com o uso de aparelhos ortodônticos. Nesses casos, faz-se necessária a remoção de um ou mais dentes para se atingir o resultado desejado. Geralmente, opta-se pela extração dos primeiros prés-molares ou de um incisivo inferior.
Dificuldade de higienização: certos dentes, devido às suas posições, são praticamente impossíveis de serem higienizados adequadamente. Higiene deficiente, cárie iminente. 🙂 O melhor exemplo desse caso é o siso, que vive cariado ou provocando pericoronarite.
Ausência do antagonista: quando você morde, os dentes de cima tocam os dentes de baixo. Quando falta um deles, o outro fica sem anteparo e sem função mastigatória.
Irrupção ectópica: hã?! Seguinte: sabe aquele dente que deveria estar lá no rebordo da sua gengiva e resolve aparecer no céu-da-boca? Então, isso é irrupção ectópica. Quando o dente nasce onde não deveria.
Em tempo: cárie não é motivo (em si) pra extrair um dente! Pode ser um motivo se, e apenas se, o dente estiver tão cariado que não sobra muita coisa. Se o nervo do dente estiver comprometido mas houver tecido dentário viável, a escolha é o tratamento de canal, seguido de restauração ou prótese. Se você insistir em tirá-lo, o barato pode sair caro. Os implantodontistas agradecem. 🙂
Ainda bem, os tempos são outros. A ideia de que o cirurgião-dentista é um mero arrancador de dentes vem perdendo força. Hoje, mais do que nunca, o conceito de prevenção (cuidar) vem tomando o espaço do tratamento curativo. O saldo dessa modificação na forma de encarar o papel do profissional de saúde bucal é uma geração que não conhecerá o medo de dentista, a não ser nos filmes e séries de TV. Estamos caminhando nessa direção. 🙂
8 comentários
Cara dentista, extrai um dente, e normal tem um amarelado no local com gosto ruim, tipo pus ou sei la, e um pouco de dor?
Diana, pus não é normal. Mas esse amarelado pode ser só um exsudato inflamatório e, nesse caso, seria normal dada a situação e o período de cicatrização. Um pouco de dor também é esperado.
Doutora, extraí um dente extranumerário e depois fiz uma limpeza de tártaro. Consequentemente, meu canino começou a doer e minha gengiva ficou inchada. Isso é normal?
É sim, Samira. Quando o dentista “mexe”, depois pode ficar dolorido / inchado mesmo, mais ainda em se tratando de raspagem (remoção de tártaro).
Me desculpe, mas ou vc tem pouca experiência ou está me gozando! Dor de endodontia é uma coisa pior q dor renal:
Tomei anestesia o suficiente pra tirar 2 dentes, mas nem consegui tratar o canal, pois conforme a colega acima falou, daquele lance de ir a lua e voltar, o pouco efeito anestésico q havia somente na língua, desapareceu na mesma hora e tive q tomar um tipo de “baralgim” injetável até, me falaram que esse tratamento de 7 dias para desinflamação pode resolver, mas estou com vontade de fugir sem fazer mais nada! Me falaram que pode ser excesso de descarga interna de Adrenalina e cortizol da suprarenal, sistema natural de defesa do corpo em situações de estresse e risco, assossiado à inflamação!
Paciente, você já teve uma cólica renal? Se já, não teve a mesma que a minha. Pessoas diferentes sentem de forma diferente. Essa discussão é totalmente inútil.
>Porra Tio … depois desse comentário magistral seu só me restou dizer que … putz … num restou nada =P
>Fico cada vez mais encantado com a leveza que você traz aos seus textos. Geralmente abordando temas tensos, como "coisas que dão medo", você acaba esclarecendo e educando com muita competência e, claro, com uma pitada adorável e indispensável do seu bom humor!
Continue assim, viu?
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