O Medo de Dentista e as Estatísticas

Tá certo, eu admito: tem muita coisa no consultório do dentista que causa desconforto físico e psicológico: desde a cadeira dura na sala de espera até aquela coleção de instrumentos de aparência assustadora. Sem contar umas coisas de consistência e gosto estranhos que colocam na sua boca. Fazer o quê, é preciso! Para a maioria das pessoas o problema termina aí. É chato, mas vamos lá! Só que uma parcela importante da população mundial não vê as coisas assim de forma tão simples.

Medo

Pesquisas apontam que cerca de 50% da população fica ansiosa quando marca a consulta no dentista. Mas o pior mesmo é que mais ou menos 10% das pessoas nem sequer cogita a possibilidade de marcar a tal consulta. E a situação atual é essa: enquanto o número de pessoas que tem MEDO de dentista diminui, o de pessoas com FOBIA de dentista se mantém estável. Segundo Antonio Carrassi, professor da Universidade de Milão, mais de 40% daqueles que, embora tenham acesso aos tratamentos odontológicos, não se submetem a essa terapêutica periodicamente, reconhecem que o principal motivo dessa atitude é o medo do dentista. Bom, sabendo o motivo fica mais fácil…

A revista Community Dentistry and Oral Epidemiology publicou uma pesquisa norueguesa que analisou o impacto da fobia de dentista na saúde do indivíduo. De acordo com essa pesquisa, pessoas que fogem do dentista têm maior incidência de cáries, tártaro, problemas gengivais, perdas dentárias e abscessos. Nenhuma surpresa, pois um componente essencial falta à manutenção da saúde bucal dessas pessoas: supervisão periódica.

Segundo a professora Ruth Freeman, pesquisadora da Faculdade de Odontologia da Queen’s University de Belfast, “a odontofobia pode ser o resultado de um duplo processo: uma falsa conexão e um deslocamento psíquico”. Traduzindo: a pessoa com fobia conecta uma situação presente com um trauma anterior (que não precisa ter nada a ver, necessariamente, com Odontologia) e, não bastasse isso, o medo e a ansiedade experimentados naquela ocasião vêm de “brinde”. Sem contar a sensação de impotência, de estar com a boca aberta, sem poder falar… tudo contribui para o mal-estar. É ou não é assim?

Sobre os estudos e estatísticas aí em cima muitos vão dizer: “Ah, mas esses dados aí são de fora do Brasil, [ironia] onde tudo funciona direito, todo mundo é honesto e limpinho [/ironia] … aqui é BEM pior!”. Não. O Brasil está nessa média aí, e saibam: o cirurgião-dentista brasileiro é considerado referência em Odontologia no mundo todo. Portanto, se fosse pra ser pior em algum lugar, seria lá fora. Pensem nisso.

E se você faz parte do 56% que recorrentemente fazem a ~~piadinha~~: “Eu não tenho medo de dentista, eu tenho medo é do preço que eles cobram” ou acha que a observação que eu fiz acima só serve pra gente rica, clique aqui. 97% das pessoas que leram o artigo do link viram a luz! 😉

Baseado no artigo de Massimo Barberi.

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No plantão: Ana Tokus

Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia pela ABO-PR, convicta de que medo de dentista se combate (também) com informação. Diva-Boss do OdontoDivas e autora do Blog Raios Xis. Twitter: @AnaTokus e @medodedentista