Vamos encarar: ir ao dentista assusta a maioria das pessoas. E motivos pra isso costumam não faltar, tanto que o Blog Medo de Dentista criou uma coluna só pra desmistificar as coisas que mais dão medo quando se pensa num consultório odontológico. Já falei do motorzinho, da anestesia e até da sala de espera do dentista. Mas ainda não havia tocado em um ponto crítico: o próprio dentista.
Não quero falar da competência profissional de nenhum colega, isso é o mínimo que se espera. Acho mais oportuno ressaltar outros aspectos do atendimento de um profissional da área, aqueles detalhes que às vezes passam despercebidos mas que fazem toda a diferença.
Das reclamações relacionadas ao profissional que mais ouvi dos pacientes que declaram ter medo de dentista a mais comum, com certeza, é a dor que “ele me fez passar”. Já falei aqui de alguns motivos que levam à experiência de dor na cadeira do dentista. E já expliquei também que o paciente tem sua parcela de culpa quando deixa as coisas chegarem a um ponto sem volta, quando a dor é inevitável. A gente não faz milagre!
Outra queixa recorrente é a “mão pesada” de alguns dentistas. As pessoas associam a pressão e o toque firme com a dor ou a possibilidade dela. E aí, a cada movimento mais brusco, o paciente se agarra à cadeira e reza. Porém, infelizmente, alguns procedimentos odontológicos exigem realmente algum vigor, especialmente em se tratando de extrações dentárias. Acredito que o mais importante para evitar sobressaltos é avisar o paciente sobre movimentações mais enérgicas e possíveis “apertões” que ele está sujeito a levar. Eu costumo avisar até quando vou baixar o encosto da cadeira para um exame clínico, para que a vítima o paciente não se assuste.
Há quem venha ao dentista só pra falar mal do dentista anterior. Já ouvi centenas de reclamações desdenhando do trabalho de colegas e atribuindo a esse “trabalho mal feito” todo os males da humanidade. Depois que adquirimos um pouco de experiência já sabemos discernir o que é real e o que é fantasioso. Independente da categoria em que o relato do paciente se enquadre, o importante é ouví-lo e esclarecer suas dúvidas. Em tempo: simplesmente concordar com o paciente quanto à incompetência do seu colega não o faz um dentista melhor “por comparação”. Pelo contrário. Não dá pra falar de um tratamento de outro profissional sem conhecer o caso!
Essa eu ouço bem menos (ainda bem): “Eu fui no dentista e ele saiu falando por aí das condições precárias da minha boca”. Não posso acreditar numa coisa dessas. Muitas pessoas não vão ao dentista regularmente mais por vergonha que por medo. Sr. paciente, não precisa ter vergonha. Acredite, nosso treinamento e experiência costumam não permitir que fiquemos surpresos com o que vemos. Conversamos sim sobre casos clínicos com outros colegas, mas não me recordo de nenhum caso do qual eu tenha ficado sabendo no meio da rua. Sigilo é direito seu e dever do seu dentista.
Empatia com o profissional. Não adianta… quando “o santo não bate”, não tem jeito. O dentista pode ser o cara mais competente do mundo, mas você não foi com a cara dele! Acontece. Quer uma dica? Troque de dentista. Para que um tratamento odontológico seja bem sucedido é preciso que dentista e paciente estejam na mesma “vibe”, encarem as coisas de forma parecida. Como em qualquer relacionamento, seja pessoal ou profissional ou no Big Brother, afinidade é essencial.
Enfim… se eu puder dar um conselho aos colegas, é esse: humanizem a relação com seus clientes. Não vejam seus pacientes apenas como bocas cheias de dentes. Falem com eles. São pessoas com histórias de vida, problemas pessoais, medos e desconfianças. E para os pacientes: escolham um profissional em quem confiem. Exponham seus temores. O dentista não conhece você e não tem como saber suas necessidades “menos óbvias” sem uma ajudinha sua.
Como dizia o Velho Guerreiro: “Quem não se comunica, se trumbica!”. Mas ao contrário dele, eu vim pra explicar… não pra confundir. 😀
12 comentários
Olá Ana, eu tenho trauma de dentista, e um dente nasceu em cima do outro na parte de cima, o que nasceu em cima é de leite e o de baixo não, muita gente fala que é preciso arrancar, só que o que nasceu em cima é colado na gengiva.
1 – Nesse caso é preciso arrancar algum? Qual?
2 – Será necessário colocar aparelho por conta disso?
Tenho que fazer obturações, limpeza e colocar aparelho (sem a questão do dente, será necessário). Qual deles dói mais? Obturação? Limpeza? Ou aparelho?
Beatriz,
1. Se for caso de extração, extrai-se o dente de leite.
2. Não, isso, em si, não indica o uso de aparelho.
Nem a limpeza, nem as restaurações, nem o aparelho doem. Claro, depende do caso… se forem procedimentos mais difíceis, pode ser preciso anestesiar. A colagem do aparelho não dói absolutamente nada, mas pode incomodar é depois de algumas horas, quando os dentes já começarem a se movimentar. Mas nada que um analgésico não dê conta.
Obrigada Ana, Ótimo Blog !!
Eu havia respondido, mas acho que me esqueci de mandar a resposta, nao tenho certeza, de forma que se estou repetindo peço desculpas. Bem, eu nao procurei porque sabe la o que um psicologo iria pensar de uma mulher de quase 30 que tem medo de dentista? Vai pensar que eu sou maluca. E tambem porque tenho medo de todos os outros doutores, isto eh, tudo que tem relaçao com a Medicina me causa pavor. E eu ja fui ridicularizada algumas vezes pelos meus temores, pelo que estou muito agradecida pela existencia deste blog, porque aqui posso escrever sem que debochem de mim.
Erika, acredite: é MUITO COMUM adultos com medo de dentista… é o que minha experiência tratando sobre o tema tem demostrado. E o psicólogo não vai achar você maluca, garanto. De minha parte, pode desabafar à vontade nos comentários… aqui ninguém vai debochar de você. 🙂
Otimo texto, mas eu na verdade nao tenho nenhuma dessas queixas, confio no dentista, acho ate que nem mesmo o tema da dor me preocupa muito. O problema eh basicamente o terror que eu sinto por ter que ir ao dentista. Na vez passada por exemplo, tive que fazer limpeza, ja que tinha muito tartaro e tal, e doeu bastante e tudo isso, enfim, normal, claro que eu me senti mal, mas eh assim mesmo. O que de fato me deixou assustada foi quando eu cuspi, que saiu aquele sangue todo, o que tambem era perfeitamente natural, dadas as circunstancias. Todavia, eu fico muito nervosa com isso, dai so faz aumentar o meu temor. Ate ja tive sonhos em que todos os meus dentes caiam. Ou fico a cismar que em algum momento, durante alguma consulta, sera necessario arrancar todos os meus dentes, ou alguns deles acabarao sendo arrancados durante o tratamento. Eu sei que isso eh um absurdo completo, mas eh assim que eu me sinto. Ainda mais depois que a dentista observou que eu estou com inflamaçao na gengiva, agora ja cismei que tenho algo grave, e ela ainda nao me disse nada porque embora eu procure nao comentar os meus receios, ela ja sabe que eu estou apavorada.
Erika, você já procurou auxílio psicológico pra tentar entender o seu medo? Pode ajudar bastante, até porque você me parece uma pessoa muito consciente do seu problema.
>Thaís, Victor, Gustavo… obrigada! 🙂
Geisson… não te perdoo! Acho um absurdo você escrever um comentário tão grande e… excelente como esse. 😀 Comente sempre, por favor.
>Nossa! Muito bom! Por vezes assusto meus clientes até com o jato de ar! Quando eles têm medo, qualquer coisa se torna um 'trigger' para o susto.
Sim! Eu aceito que o profissional tem muita responsabilidade no processo emocional do medo que envolve o tratamento dentário. Somos seres humanos pombas! Temos nossos próprios medos, nossas contas vencem no fim do mês, nossos filhos tem febre também.
O profissional sabe separar seus problemas pessoais de sua vida clínica. Mas uma pequena parte de nosso ser é inconsciente (ou subconsciente) e esse sim, grita silenciosamente nossos problemas e anseios buscando escapar deles.
Algumas vezes, essas pequenas nuances que somos instrumentalizados a realizar para diminuir a ansiedade na cadeira do dentista, são deixadas de lado em função do estado de espírito do profissional em determinado momento.
Ele está errado? Buscou por força para arrancar tal dente, não se importou se a anestesia foi rápida e ardeu? Não. Mas ele com certeza deixará marcas emocionais!
A experiência de dor também varia de indivíduo para indivíduo, e tenho clientes que extraem sem sentir (ou sofrer) qualquer dor. Cada um precisa se perguntar: O medo que sinto tem fundamento? Como posso encarar de maneira razoável o que sinto?
A discussão sobre o medo do dentista tem pauta para um zilhão de anos de seu Blog Ana. Parabéns e me desculpe por escrever demais.
>São esses cuidados que fazem com que os pacientes acabem confiando na gente e, consequentemente, deixem o medo um pouquinho de lado.
E as crianças, em especial, merecem essa atenção toda. Sempre procuro avisá-la sobre o procedimento para que ela não se assuste: Alta rotação? Chuveiro pra dar banho no dente (faz um barulhão, né?); ataque ácido? Xampu! Adesivo? Perfume, ué! E por aí vai!
E mesmo nas extrações, é importante ser sincero e mostrar que ela vai sentir o tio apertando o dente, que ela vai escutar um barulhinho… mas dor, nem pensar!
Parabéns pelo post, Ana!
>Muito bom, Ana! Já estou seguindo suas dicas, pois também costumo avisar quando vou abaixar o encosto da cadeira!! Creio que se o profissional for organizado, educado, tranqüilo e souber se comunicar, com certeza os pacientes perceberão que não há o que temer!
>MARAVILHOSO!!!!!
Eu quero ser igual a vc quando crescer #FATO
Hehehehehe
Adorei!!!
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