Odontologia Extrema: Epidermólise Bolhosa

Alguns pacientes possuem limitações extremas. Problemas de saúde que, aos olhos do leigo, impedem o tratamento odontológico. Como atender um paciente que mal pode ser tocado?

A epidermólise bolhosa é uma condição rara e hereditária, incurável, não-contagiosa e que se caracteriza pelo aparecimento de bolhas (e posteriormente feridas) por toda a pele e mucosas, após trauma mínimo pequenos machucados ou espontaneamente. Trocando em miúdos, crianças com epidermólise não podem correr, jogar bola ou pular, já que o risco de esbarrar, coçar, raspar, bater, puxar ou cair pode ter consequências dolorosas. Então, como lidar com um caso desses na cadeira do dentista? Extrações, afastamentos, anestesias, brocas, aparelho, cunhas e matrizes, tudo isso aperta, estica, cutuca ou machuca, complicado num paciente em que até mesmo escovar os dentes exige cuidado! Existem formas mais ou menos graves da doença e os cuidados serão proporcionais a essa gravidade.

Epidermólise Bolhosa: Mesmo escovar os dentes é tarefa difícil.

Pacientes com epidermólise bolhosa costumam ter algumas diferenças na boca. A presença de bolhas e feridas é comum, já que a alimentação, tosses e espirros também causam bolhas… Além disso, podem acontecer de nascerem dentes a mais ou a menos, e como a mastigação é pouco estimulada, é comum que aconteçam problemas na mordida, lábios finos e pouca abertura da boca. Pela escovação dificultada, ocorrem mais cáries.

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Aspecto de uma bolha na epidermólise

Além da boca, as bolhas e feridas internas, no tubo digestivo, impedem um desenvolvimento pleno da criança que normalmente têm seu crescimento prejudicado. Como as mãos e pés sempre estão esbarrando em alguma coisa, é comum que o processo bolha-ferida-cicatriz acabe por unir os dedos na posição fechada. A temperatura é outro desafio, parece que não mas muito calor ou frio também lesiona a pele e piora o quadro…

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Pele marcada por bolhas e cicatrizes

O tratamento para estes pacientes é possível, mas deve levar em conta alguns pontos:

  • Acompanhamento constante, mais frequente que nos pacientes “normais”, principalmente se houver dentes-de-leite e permanentes ao mesmo tempo na boca (na dentição mista, normalmente entre os 6 e os 12 anos).
  • Foco na prevenção!  Sem problemas na boca, sem necessidade de intervenções, e então, menos risco de bolhas.
  • Se o dentista precisar intervir, deve evitar machucados, protegendo tudo muito bem, usando gaze úmida e mantendo a pele ao redor da boca sempre hidratada.
  • Extrações devem ser evitadas, exceto se um dente-de-leite estiver “pendurado” por muito tempo e sua presença começar a causar bolhas…
  • Se houver necessidade de ortodontia, sempre proteger todas as partes do aparelho e trabalhar com a menor força possível e por tempo prolongado.
  • Crianças com epidermólise bolhosa NUNCA devem sofrer contenção física!!! Por motivos óbvios: segurar à força causará bolhas por todo o corpo!
  • Delicadeza, atenção e tempo de sobra são palavras de ordem!

As OdontoDivas falam sobre esse assunto aqui –> Caso Clínico: A Menina Borboleta

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Categoria: Diagnóstico BucalPacientes Especiais

17 comentários

  1. Tenho epidermólise bolhosa e necessito de aparelho ortodôntico, tenho o plano odontológico Bradesco Premium e gostaria de uma indicação de um bom ortodontista que possa me atender. Obrigada.

  2. Doutora, eu tenho uma bolinha debaixo do ultimo dente, meio dura e meio mole rsrs, as vezes aperto dai sai um pouco de sangue, mas nao sai pus! O q pode ser? E perigoso?

  3. Olá, Dra. Tudo bem? Minha dúvida não tem nada a ver com o tema do assunto. Antes de mais nada tenho pavor de dentista. Mas muitooo msm, toda fez passo mal, choro, fico com falta de ar e minha pressão sobe. Tenho trauma pq uma vez me seguraram pra aplicar a anestesia. Minha dentista mais parece um homem do q uma mulher, ignorante e bruta, acha q a gente não sente dor, meu tratamento ta todo pago lá e não tem como eu fugir dela, pq meu marido disse q não vai pagar outro dentista de novo. Uma vez ela me falou um monte de coisa pq quando fico nervosa falo muito, então eu pedi anestesia pq estava com medo de doer, só q ela acabou com a minha raça, hj eu tenho q ir na psicóloga por causa dela. O pior de tudo e q tenho q voltar lá pq ela não terminou e eu já estou com cáries de novo, pra minha infelicidade 🙁 . A minha dúvida é: tenho amálgama e tenho uma cárie nesse dente de amálgama, quando ela for fazer a restauração ela vai colocar a anestesia? Pq quando encosta ferro ou alumínio da aquele dá choque, q pra mim e a morte, dói muito msm. Só q aquele ser não entende isso. ;( e tbm não suporto aquele motorzinho, pq e agoniante e minhas cáries estão rasas, só q não abro mao da anestesia no dente com amálgama pq dói muito! E se eu for pedir a anestesia de novo ela vai dar na minha cara, me responde por favorzinho, preciso q alguém q entenda, me ajude!

    1. Loyanne, anestesia é um direito seu. Exija. Você não é obrigada a se submeter a qualquer tratamento sentindo dor se isso pode ser evitado. Se sua dentista se negar a dar anestesia, peça seu dinheiro de volta e troque de dentista. Se você não tivesse pago todo o tratamento, essa seria minha primeira sugestão, porque não há qualquer vínculo de confiança e respeito entre vocês duas… e aí a coisa não funciona.

  4. Olá Dra., eu gosto muito do seu site, muito informativo.
    Mas estou com um problema na minha lingua, surgiu uma pequena mancha rosa e coça, e se eu aperto ela doi.
    Esta na parte de cima, antes ela estava lisa, agora tem um ponto dela que esta elevado.
    Estou com medo de ser câncer (obs: tive candidíase intima semana passada)

  5. Oi doutora, na minha ultima ida ao dentista para manutenção ela disse que meu break estava solto, so que eu nao percebi porque ele ficou colado no fio, mesmo em casa olhando no espelho não da para perceber, tem como eu saber quando meu break estiver solto sem precisar ir no dentista ?

    1. Isabelly, os bráquetes descolados costumam ficar presos ao fio mesmo. Portanto, você teria que olhar de 1 em 1 e verificar se tem algum que “corre” pelo fio.

  6. Poderiam me tirar uma dúvida?

    Desde criança tive problemas com a formação dos dentes, mas meus pais foram relapsos e nunca deram atenção a saúde dental. Apenas agora aos 18 anos estou tendo a oportunidade de consertar os erros.
    No entanto, o meu dentista achou que seria um tratamento mais prático a remoção das quatro presas (sendo três dessas nascidas erradas (tortas/encavaladas), onde uma delas não nasceu, ficou na gengiva.

    Pode me dizer se isso é aceitavel? Se devo fazer este tipo de tratamento?

    1. Ricardo, com “presas” você se refere aos caninos mesmo ou seriam os primeiros pré-molares? Pergunto isso porque a extração de caninos é bem incomum quando há apinhamento dentário, costuma-se extrair os pré-molares, mesmo que os caninos sejam os dentes mais tortos. Isso porque os caninos têm papel fundamental na mordida, já os pré-molares são 8, então a extração de 4 deles, quando há indicação pra isso, é algo mais habitual.

      1. Perdão, usei a expressão errada. Sim, são os caninos.
        Ele me diria que a extração deles seria mais prática e menos dolorosa do que tentar corrigi-los.

        1. Não é errado não, Ricardo… geralmente as pessoas usam o termo “presas” para os caninos… é que a extração de caninos é bem incomum, por isso eu perguntei. Então… é como eu disse: não que seja “proibido” extrair os caninos, mas é pouco usual. Em 98% das vezes eles não são os dentes escolhidos pra extração quando há apinhamento. Costuma-se extrair os pré-molares nesse caso. Converse com o seu dentista pra entender o que ele está planejando. Não acho que extrair os caninos vai resultar num tratamento menos doloroso, até porque não vejo qual procedimento seria assim tão doloroso. Mas, claro, eu não examinei você, então é apenas uma opinião baseada no que é mais comum, não nas exceções.

          1. Agradeço sua atenção. Vou conversar com o rapaz e talvez até pegar uma segunda opinião em outro consultório.

            Obrigado mais uma vez.

      2. Boa noite, Doutora
        Como deve funcionar a oclusão? Já sei que como uma caixa e a tampa e a tampa é arcada superior. Os molares também são assim 16, 15, 26, 25 ou estes só tem de bater com arcada inferior topo a topo?

        1. Os molares também são assim, Salomé… como a caixa e a tampa. As cúspides linguais dos molares de cima encaixam bem no meio dos molares de baixo, de forma que as cúspides vestibulares (“de fora”) dos molares de cima ficam “mais pra fora”, como uma tampa ficaria.

A área de comentários / perguntas está fechada. Agradeço a compreensão.

No plantão: Guilherme Genovez Júnior

Cirurgião-dentista graduado pela UNIVALI - Universidade do Vale de Itajaí, especialista em Pacientes com Necessidades Especiais pela São Leopoldo-Mandic, habilitado em Sedação Consciente pelo COPH-Bauru.